Há vários sentimentos que eu não compactuo e trabalho no sentido de não cultiva-los. Um deles é a ingratidão. Santa Maria só é Santa Maria por causa da UFSM. Vale lembrar que sem a UFSM, a cidade não seria reconhecida como "Cidade Cultura". Não desconheço e reconheço que outras instituições contribuíram para esta valorização. A educação, juntamente com a cultura e o meio ambiente, sofrem ataques drásticos e diários por parte do Governo Federal.
Quando se pensa que o arsenal de insensatez atingiu o ápice, surge mais uma. É como se os fragmentos de maldade se recombinassem e ressurgisse um monstro ainda mais cruel. Nos últimos dias, a derradeira apunhalada foi direcionada à educação, em especial ao ensino superior e técnico. O objetivo é atingir a "elite diplomada". Em vez da política ser direcionada à qualificação dos brasileiros, ela vem no sentido contrário, o da mediocridade. Diariamente, ouve-se que sobram vagas para os profissionais mais preparados, no entanto, a política da miséria intelectual quer incentivar a desqualificação. "Que mania de querer um diploma!" Para destruir as possibilidades, as universidades estão sendo colocadas na masmorra, alimentadas a pão e água, até que percam as forças, definhem e morram à míngua.
Vivenciei a UFSM em diferentes status: acadêmica de graduação, de pós-graduação e professora. Se nos cursos mais concorridos há algumas evidências que vão de encontro ao ensino gratuito, em outros, a maioria, como nas licenciaturas, a realidade é bem outra. Falo com a propriedade da vivência, fui coordenadora de curso por muitos anos. Nos cursos de química ingressam alunos do interior do Rio Grande do Sul. Cidades tão pequenas que não figuram nos mapas. Alunos de escolas públicas e filhos de pequenos produtores rurais. Pais que mal escrevem o nome, mas desdobram-se para ver seus filhos com um diploma de curso superior. Este perfil é o dominante na UFSM. Não fossem o ensino gratuito e as políticas da instituição, como moradia estudantil, restaurante universitário, bolsas de trabalho, iniciação científica e outros benefícios, jamais teriam condição de fazer uma faculdade para modificar a sua realidade, da família e da comunidade de origem.
A UFSM é reconhecida mundialmente como uma das instituições mais inclusivas. O orgulho que deveria tomar conta da cidade, se transforma em desaprovação e crítica tóxica e destrutiva. O orgulho de ter uma instituição que dirige o olhar e a atenção para as minorias e busca resgatar injustiças sociais históricas é, surpreendentemente, apontada como concessão de benefícios desnecessários. Pior, a exclusão é aplaudida. O sentimento de ingratidão transforma a cidade. A educação é a única forma de conceder dignidade e oportunidades iguais às pessoas.
Uma pergunta não quer calar: quem ganha com os cortes na UFSM? Vem pra rua, a UFSM também é tua!!